“Avô vai deixar o rebanho nesta encosta esta noite?” perguntou a criança.
"Sim, lá em baixo, perto do lago, o avô fez um curral com uma corda. É simplesmente uma corda, mas assim, elas vão sentir-se mais seguras.” Respondeu o avô.
"Mas a corda não vai parar os lobos avô…” preocupou-se a neta.
Dando um pequeno rir, o avô disse: "Por aqui não há lobos! … Pelo menos os de 4 patas!”
"Pelo menos os de 4 patas?”, Inquiriu a menina.
“Por vezes os homens são piores que os lobos, foi nesses que estava a pensar quando disse “pelo menos os de 4 patas”.” Disse o pastor, depois pareceu inspirado e continuou:
“Dentro de todos os homens, há 2 lobos,
... um que tem medo e outro que tem amor, o primeiro lobo representa a inveja, o rancor, a arrogância, esse derrotismo que faz-nos sentir pena de nós mesmos e impede-nos de lutar. Um lobo que tem medo porque é inseguro e que pretende encobrir esse medo com agressividade, mentindo, atacando à traição.
O outro lobo, aquele que representa o amor, também tem que lutar. O amor não é passivo e despreocupado; tem que lutar constantemente para sobreviver. Deve esforçar-se a cada momento para criar espaços de paz, de liberdade, de afecto, de compreensão. Tem que sobrepor-se à mentira dos outros, à ingratidão, à tentação que sentimos de responder ao mal seguindo o mesmo caminho.
Esses lobos lutam constantemente entre eles, … dentro de nós”
"Mas qual deles é que ganha avô?” Perguntou a criança com uma voz aflita.
"Aquele que mais alimentares!” Foi a resposta!
Houve um silêncio que pareceu uma eternidade, depois, num tom alegre a jovenzita disse: “Temos que ir alimentar o lobo bom, avô, estou com fome…
” Rindo alto, o avô e a neta levantaram-se, chamaram o rebanho e lá foram eles, alegremente, encosta abaixo.
Jorge Parreira 2010
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